sábado, 14 de setembro de 2024

Crítica Cinema | O Bastardo

(Uma história muito bem resolvida)


O Bastardo, filme potente. E também reflexivo. Potente nas imagens, nas situações, personagens e relações entre eles. Reflexivo, pois acompanhando a trama, o espectador, além de sofrer ou emocionar-se, ou depois de assistir, poderá pensar quais graus máximos de maldade ou de determinação podem ser atingidos pelos humanos. É uma história de vida (resulta importante definir uma obra cinematográfica por ter uma história e como é contada). Mas, também, é um relato histórico da Dinamarca. Um drama épico que, por momentos traz situações muito crueis, e por outros, produz intensas emoções empáticas com os personagens.

A narração se abre situando-se em 1.755, no antigo reino da Dinamarca. Mais exatamente se vincula a Jutlândia, região inóspita, desolada e agressiva e que, de ser cultivada, traria benefícios a esse reino e recompensas importantes ao colonizador. Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen), é um filho bastardo, isto é, não reconhecido por ser fruto extramatrimonial de uma violação de uma serva por parte de um poderoso. Ele tem conseguido ao longo de anos converter-se em capitão militar. Ao conhecer esse prêmio e desejando tornar-se nobre, decide aceitar o desafio. Assim, sozinho e só com algumas poupanças, parte para essa difícil e improvável conquista. Tentando convencer à corte sem muito sucesso, vai para o local, onde já desde o início deverá lutar contra uma natureza agreste e marginais perigosos. Além disso, terá como inimigo absolutamente impiedoso a Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg), um nobre, até esse momento proprietário dessas terras e que é também juiz na região. Aquela qualidade de dono é mais de fato, e produto de uma discutível herança, que condição fundada em direito.

Para piorar a situação, Kahlen acolhe um casal que está fugindo do poderoso Schinkel (vamos chamá-lo assim, defrontando-nos com sua mania de manter o “De” como parte integrante de seu nome). Ann Barbara (Amanda Collin), a mulher do mencionado casal, passará a ser parte importante da luta atual e da vida de Kahlen. Há outras figuras femininas, em especial uma que vai trazer uma perspectiva extremamente humana ao relato: a menina Anmai Mus (Melina Hagberg, atriz de 10 anos de idade, como a criança e Laura Bilgrau depois, como a jovem). E Edel Helene (Kristine Kujath Thorp), nobre acosada por Schinkel e apaixonada por Kahlen.

Essa luta contra fatores muito adversos dados pela natureza, a carência de recursos econômicos, os interesses econômicos da coroa, seus grupos e indivíduos que só tinham de nobre o nome, o orgulho extremo, etc. fazem de Kahlen um personagem determinado, com objetivos claros e persistência absoluta. Embora não livre de algumas condutas polêmicas, incluindo assassinatos - que podem ser definidos como “defesa própria” -.


A obra se consolida como uma epopeia cinematográfica. Como tal, suporta alguns eventuais exageros, esticamentos do tempo de narração e até uma carga melodramática. Mas tudo dosificado, apresentando diversos tipos de cenas e sequências. Entre as mais comovedoras está um primeiro indício de êxito no cultivo agrícola projetado pelo protagonista e o reencontro dele com a menina que tinha abandonado pelas circunstâncias; também é muito humano um peculiar pedido de matrimônio. E resultam ser inúmeros os momentos que podem ser citados e que, talvez, resultem inesquecíveis.

Falando em citações, há diálogos e monólogos com pensamentos bem interessantes como, por exemplo, sobre o caos: “Deus é caos / A vida é caos / A guerra é caos.”

As atuações são elogiáveis, em especial a de Mads Mikkelsen, ator com sólidos antecedentes: 42 longas metragens prévios, dentre os quais podemos mencionar “A Caça” (2012), “Loucos por Justiça” (2020), “O amante da Rainha” (2012, com o mesmo diretor e caraterísticas similares a O Bastardo). E teve papeis em vários títulos, ainda mais conhecidos pelo público de massas. Nome conhecido a nível internacional, em especial na Europa e é cartão de apresentação de filmes dinamarqueses. Por isso, dá peso a um título dessa origem quando a produção pretende levá-lo a outros países ou festivais e mostras de cinema.

Ele pode ter um certo grau de inexpressividade, bem nórdica. Ser enigmático. Porém, em seus silêncios prolongados, em sua aparente impassividade há margem para pequenos gestos que evidenciam emoções ocultas e decisões por vir. E, além disso, produz uma instigação indireta ao espectador para que sinta empatia e pretenda quase inconscientemente dizer-lhe ao personagem o que deveria fazer, como reagir. Nesta oportunidade, trata-se de mais uma grande atuação de Mikkelsen.

Os técnicos acompanham corretamente (em especial Rasmus Videbaek, fotografia; Olivier Bugge Contté, edição; Dan Romer, composição musical; Vicki Ilander, figurinos e vários responsáveis pela direção de arte). Mas é o conjunto da obra o que deve ser valorizado. Nikolaj Arcel, diretor (6º longa) e co-roteirista (17º trabalho como tal) soube conduzir esta realização, tão gigantesca quanto o título que inicia e fecha a projeção, com palavra que abrange toda a tela: “BASTARDEN”. O Bastardo é um filme muito bem feito, em todos os sentidos: história, objetivo, alternativas na trama, atuações, competências técnicas etc. Para assistir - sofrendo e emocionando-se - e, também, para refletir.


Sinopse:
No século XVIII, na Dinamarca, o Capitão Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) – um herói de guerra orgulhoso, ambicioso, mas empobrecido – embarca em uma missão para domar uma vasta terra inóspita na qual aparentemente nada pode crescer. Ele busca cultivar colheitas, construir uma colônia em nome do Rei e conquistar um título nobre para si mesmo. Essa área bela, porém hostil, também está sob o domínio do impiedoso Frederik De Schinkel, um nobre vaidoso que percebe a ameaça que Kahlen representa para seu poder. Lutando contra os elementos e bandidos locais, Kahlen é acompanhado por um casal que fugiu das garras do predatório De Schinkel. À medida que esse grupo de desajustados começa a construir uma pequena comunidade neste lugar inóspito, De Schinkel jura vingança, e o confronto entre ele e Kahlen promete ser tão violento e intenso quanto esses dois homens. Direção: Nikolaj Arcel. Estreia nos cinemas brasileiros em 12 de setembro de 2024 pela Pandora Filmes.

Imagens para divulgação fornecidas por assessorias ou retiradas da internet 
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