sábado, 6 de julho de 2024

Crítica Cinema | O Sequestro do Papa

(As religiões, por muitas vezes, causam os maiores conflitos da humanidade)


O Sequestro do Papa (Rapito, 2023), longa-metragem dramático italiano, francês e alemão distribuído pela Pandora Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, a partir de 18 de julho de 2024, com classificação indicativa 12 anos e 130 minutos de duração. Destaca-se não apenas pela sua narrativa envolvente, mas também pela forma como aborda temas delicados por uma perspectiva histórica profunda. Dirigido por Marco Bellocchio, o filme mergulha no controverso episódio do rapto de Edgardo Mortara, um jovem judeu que, após um batismo secreto, é arrancado de sua família para ser criado como católico, desencadeando uma batalha política que coloca em cheque o poder do papado contra as forças de unificação italiana.

A atuação de Enea Sala como o jovem Edgardo encanta, transmitindo com maestria a confusão e o conflito interno de uma criança arrancada de seu mundo conhecido. Leonardo Maltese, interpretando Edgardo mais velho, complementa essa jornada com uma performance que captura a complexidade de alguém criado entre duas identidades conflitantes. Paolo Pierobon, no papel do Papa Pio IX, entrega uma atuação carismática que humaniza uma figura frequentemente vista como autoritária e intransigente.

A cinematografia do filme é uma verdadeira obra de arte, com uma reconstrução de época meticulosa que transporta o espectador para a Itália do século XIX. A paleta de cores, o design de produção e os figurinos trabalham em harmonia para criar uma atmosfera autêntica e imersiva. A trilha sonora, sutil e emocionante, complementa a narrativa sem jamais se sobrepor à história.


Bellocchio faz uso de uma narrativa não linear, que, embora possa confundir inicialmente, revela-se uma escolha acertada ao desdobrar as camadas da história e dos personagens. O roteiro, coescrito por Bellocchio, Susanna Nicchiarelli e Edoardo Albinati, é rico em diálogos significativos e momentos de tensão bem construídos, que mantêm o espectador atento do início ao fim.

Também se destaca por sua abordagem crítica às instituições religiosas e ao uso do poder eclesiástico para influenciar e controlar a sociedade. Através do drama pessoal de uma família, o filme levanta questões sobre fé, identidade e liberdade, convidando o público a refletir sobre o impacto das decisões tomadas por aqueles em posições de poder.

Em termos de produção, o filme é uma colaboração internacional, com contribuições da Itália, França e Alemanha, o que se reflete na diversidade do elenco e na riqueza dos pontos de vista apresentados. O Sequestro do Papa 
é um filme que desafia e cativa, um feito impressionante de storytelling que combina performances poderosas, uma direção segura e uma mensagem que ressoa muito além dos limites da tela. É uma adição valiosa ao cinema histórico e uma peça essencial para quem busca entender as complexidades das relações entre religião e política.


Sinopse oficial: 
Baseado na escandalosa história verídica de um menino judeu, Edgardo Mortara, que foi sequestrado da casa de sua família em Bolonha, em 1858, por ordem do Papa Pio IX. Durante anos os pais dedicam seus esforços para recuperar seu filho, mas, apesar dos apelos desesperados da família e da indignação pública, o Papa permanece irredutível. A história deles revela um capítulo sombrio da tirania histórica na Igreja tendo como pano de fundo uma nação à beira da revolução. Direção: Marco Bellocchio. Estreia nos cinemas brasileiros, 11 de julho pela Pandora Filmes.

Imagens fornecidas pelas assessorias ou retiradas da internet para divulgação/Biografias usadas são da IMDB.
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