quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Crítica Cinema | Folhas de Outono

(Filme diferente com a sensibilidade e competência habitual de seu diretor)


Aki Kaurismäki. Nome difícil, provavelmente desconhecido para a maioria do público brasileiro - exceto para os cinéfilos -. Trata-se de um diretor finlandés, com 21 longa-metragens realizados, vários dos quais foram exibidos em anos anteriores em salas de São Paulo. As impressões deixadas resultaram entre muito boas e excelentes. Talvez o longa mais conhecido, Absolutamente Los Angeles (1998), foi o menos interessante. Mas outros, como O Homem sem Passado (2002), atingiram altos níveis de qualidade.

Pode-se advertir que uma de suas características é trazer um cinema triste e melancólico; e, ao mesmo tempo, mostrar preocupação social, apresentando indivíduos que “correm por fora”, na sociedade materialista de consumo, revelando uma outra Finlândia, país reconhecido por ter um alto padrão socioeconômico. Há em seus filmes uma atenção especial com o lado humano das figuras representadas: solidariedade, compaixão, porém também o contrário, como falta de empatia e, até, crueldade.


Em Folhas de Outono, não apenas aparecem essas características mas também outras bem particulares. Como de costume neste diretor, há uma certa lentidão no relato, em especial na primeira parte. Também uma relativa inexpressividade dos personagens. Dizemos ‘relativa’ porque no caso da atriz que protagoniza a trama, Alma Pöysti há uma cuidadosa evidência de sentimentos e emoções por meio de microexpressões faciais e corporais, ao mesmo tempo daquela aparente frialdade. Todos esses fatores (falta de ritmo / falta de expressão ) apontariam a violações de regras decisivas quando queremos desfrutar e/ou avaliar uma obra cinematográfica. Porém, Kaurismäki supera esses ditados e constrói um filme encantador.

Pode ser que a seu favor esteja a condição romântica daquilo que se apresenta, ou a identificação que produz ao mostrar personagens plenos de limitações e falhas, ou o fato de momentos fundamentais se passarem em uma sala de cinema ou aos seus arredores, ou favorecendo a identificação com situações que vivemos, assistimos ou até sofremos em mãos de pessoas insensíveis. Nós, seres humanos imperfeitos, sentados em uma sala de cinema vendo os personagens da realização na mesma posição; e, em outros momentos, lembrando de violações de normas, ou revivendo situações revoltantes, tristes e dolorosas. No fundo, somos nós, espectadores de Kaurismäki, os retratados por ele, um cineasta que presta atenção à condição humana.


Curiosamente, há uma longa lista de contrastes em Folhas de Outono: a protagonista, com um rosto bastante bonito mas apagado, angustiado; que desejaria que sua vida fosse plena, mas vive de modo solitário; que quer ser solidária mas para isso viola pequenas normas; um homem que é quase um herói, porém é um viciado não confiável; uma busca pelo amor, por vezes desapaixonada e que parece que não vai dar certo; a procura de companhia radiofônica que deriva em música também nostálgica (um tango de Gardel, por exemplo) e notícias de atos bélicos mortais; uma sociedade extremamente ordenada, organizada, que tem um pano de fundo desolador onde as relações são duras e rígidas a limites extremos.

Tudo isso e seguramente mais elementos, nos fazem pensar nos assuntos imediatos da vida e nos outros, os densos, aqueles de longo prazo. Folhas de Outono se assemelha a um bisturi conduzido por um especialista preciso, que faz uma dissecção profunda e detalhada dos humanos de forma individual e social. Mas, ao mesmo tempo, dá um toque delicado e sensível, principalmente na última cena, oferecendo a que talvez seja uma romântica possibilidade para as folhas de outono.


Sinopse:
Ambientado na atual Helsinki, Folhas do Outono conta a história de Ansa (Alma Pöysti) e Holappa (Jussi Vatanen), duas almas solitárias cujo encontro casual em um bar de karaokê enfrenta vários obstáculos. De contatos perdidos a endereços errados, alcoolismo e um charmoso cachorro de rua, o caminho da dupla para a felicidade é tão agridoce quanto delicioso. Estreia 30 de novembro nos cinemas brasileiros pela O2Play Filmes junto com a Mubi Brasil.

Imagens para divulgação fornecidas por assessorias ou retiradas da internet 
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